TCM - 21/09/2013.
Postado por: Luciano Poeys - TCM.
Excelente entrevista feito pelo Renato Dalzochio Jr. do site Cross Clube do Brasil, com o multi-campeão brasileiro de motocross Roberto Boettcher. Acompanhe na integra a entrevista.
Nesta quinta-feira, 19 de setembro, o Cross Clube Brasil apresenta mais uma novidade para os seus leitores. Trata-se da sessão “Vintage”, série que irá entrevistar os grandes ídolos de gerações passadas do motocross brasileiro. Para começar com o pé direito, entrevistamos nada mais nada menos do que o goiano Roberto Boettcher. Atualmente com 56 anos, Roberto competiu nas décadas de 70 e 80, tendo sido tricampeão brasileiro de motocross e bicampeão latino-americano, além de ter sido o primeiro piloto brasileiro na história a disputar uma temporada completa do Campeonato Mundial de Motocross. Atualmente Roberto é Vice-Presidente da Confederação Brasileira de Motociclismo (CBM), Presidente da Federação de Motociclismo do Estado de Goiás (FMEG) e Diretor da Agência Municipal de Trânsito de Goiânia, mas segue na ativa até hoje e sempre que pode participa de provas. Abaixo você confere a entrevista com ele. Boa leitura!
Muito obrigado por aceitar conceder esta entrevista. Você é considerado um dos maiores nomes de todos os tempos do motocross brasileiro. Faça um breve resumo da história da sua carreira para os nossos leitores.
Comecei minha carreira na década de 70. O primeiro Campeonato Brasileiro de Motocross que eu disputei foi em 1974. Corri três etapas, fui o terceiro colocado em todas elas. Em 75 disputei meu primeiro campeonato completo e fui campeão nas duas categorias da época: 125cc e 250cc. Também fui campeão latino-americano em 75 e 76 e em 77 fui o primeiro piloto brasileiro a disputar uma temporada do Mundial de Motocross. Morei 8 meses na Holanda. Até hoje sou o único piloto brasileiro que disputou uma temporada completa do Mundial de Motocross.
Quais foram os principais títulos que você conquistou?
Três brasileiros e dois latino-americanos.
Qual momento mais te marcou positivamente?
As vitórias que eu conquistei em casa e ter sido o primeiro brasileiro a disputar um mundial sem saber nem conhecer nada do campeonato naquela época. Fui com a cara e com a coragem. O primeiro GP daquele ano na Bélgica foi inesquecível.
E qual mais marcou negativamente?
Na época meu maior fã e maior incentivador da minha carreira era o meu irmão. Certa ocasião eu estava viajando para uma etapa do campeonato paulista. No sábado recebi a notícia da morte dele num acidente em Goiânia. Voltei para Goiânia e minha carreira mudou muito naquela época, porque ele era o braço direito do meu pai. A morte dele acabou comigo.
Você comentou anteriormente que foi o primeiro piloto brasileiro na história a disputar uma temporada completa do Campeonato Mundial de Motocross. Conte-nos mais a respeito desta experiência.
Até hoje todo mundo me pergunta como foi correr o mundial. O mais difícil não foi me acostumar com as pistas ou com o clima. A maior dificuldade naquela época era a comunicação. Minha maior dificuldade era sair de uma corrida e procurar uma telefônica, ficar lá até meia noite, esperar mais ou menos uma hora para poder fazer uma chamada internacional, ligar pro Brasil e dizer: “pai, aconteceu isso, aquilo, a corrida foi assim”. Era o meu pai que passava as minhas notícias para a imprensa do Brasil. Então essa era a maior dificuldade.
Quando você decidiu pendurar o capacete e qual foi à primeira coisa que fez da sua vida quando abandonou as competições?
Fui 10 vezes campeão paulista, mas nunca havia sido campeão goiano nem conquistado qualquer título na região centro-oeste. Quando decidi parar profissionalmente, disputei o campeonato goiano e o campeonato centro-oeste por três anos. Mas corri apenas por diversão, sem compromisso com a vitória. Mas na primeira etapa do terceiro ano senti que deixei de ser mocinho e virei bandido (risos). Lembro que eu estava liderando a corrida, quando fiz uma curva e jogaram uma lata de cerveja em mim! Depois disso parei e fiquei 10 anos sem ir numa corrida de motocross.
O que está fazendo atualmente?
Atualmente sou Vice-Presidente da Confederação Brasileira de Motociclismo (onde também sou Diretor de Motocross), Presidente da Federação de Motociclismo do Estado de Goiás (FMEG) e Diretor da Agência Municipal de Trânsito de Goiânia.
Como é sua rotina como diretor de motocross da CBM e presidente da Federação Goiana?
A Federação Goiana está muito bem, temos todas as modalidades. É fato que a maioria das federações se preocupam somente com o motocross, mas eu procuro realizar campeonatos de todas as modalidades. Na CBM eu dirijo as provas do Brasileiro de Motocross e cuido de algumas coisas na parte técnica. Praticamente as decisões finais são minha. Mas eu gostaria de ter mais tempo para me dedicar a CBM. No tempo que disponho atualmente só consigo exercer a função de dirigir as provas nos finais de semana.
Você chegou a disputar alguma corrida desde que encerrou a carreira?
Várias. Estou com 56 anos e participo de competições até hoje. Este ano participei das etapas do Brasileiro de Cross Country e Velocross em Goiânia. Até hoje, sempre que posso “brinco” com a moto (risos).
Como você avalia a atual situação do motocross brasileiro? Na sua opinião, porque o esporte não possui mais o mesmo prestígio que tinha na época em que você competia?
Isso é uma coisa que eu comento muito. Quando tinha provas do Brasileiro nas décadas de 70 e 80 havia público de até 40 mil pessoas. Mas nós só tínhamos um campeonato. Só tinha o campeonato brasileiro. Hoje, em muitos estados que você for, quando existe uma etapa do brasileiro, ao mesmo tempo estão realizando uma etapa do campeonato estadual e mais quatro ou cinco provas piratas. O motocross cresceu muito ao longo dos anos em nosso país. Se for analisar a nível de Brasil, em um contexto geral, num único final de semana são realizadas mais de 50 provas. Na minha época, principalmente na década de 70, só tinha o campeonato brasileiro. Em todos os municípios por onde o campeonato passava o motocross era uma novidade. “Motos pulando, o que é isso?”. Ninguém conhecia, então lotava. Hoje não, hoje é difícil um lugar que não tenha motocross.
Pra finalizar, o espaço é seu.
Tenho 40 anos da minha vida dedicados ao motocross. Gostaria de ver muitas coisas acontecerem. Nosso produto é muito bom. O problema é que os nossos empresários ainda não se conscientizaram disso. Vivemos num país que só tem olhos para o futebol. Tudo gira em torno do futebol. Ninguém percebe o esporte que nós temos, a potência que nós podemos ser no motocross, os excelentes pilotos que nós temos. O motocross hoje pode ser praticado em qualquer lugar, em qualquer cidade. A partir do momento que as grandes empresas finalmente enxergarem isso como um grande produto a ser explorado e vendido, tenho certeza que o nosso esporte vai crescer muito.
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